Ontem recebi uma triste notícia de minha orientadora do mestrado. Durante a aula, ela nos contou que o professor Éliton Espírito Santo, que lecionava Introdução ao Pensamento Teológico, não faz mais parte do corpo docente da PUC de São Paulo. Fato que poderia ser justificado pelo seu problema de saúde, pois sofre de esclerose múltipla, que o leva a se locomover através de uma cadeira de rodas. Pois era assim que o professor Éliton se dirigia à sala de aula todos os sábados de manhã para a obrigatória disciplina direcionada aos graduandos puquianos. Uma rotina semanal aparentemente pouco agradável para jovens de 20 anos que ainda carregavam espinhas no rosto, resquícios de uma adolescência que ficara pra trás.
À primeira vista, Éliton poderia provocar a piedade ou simplesmente um fastio, diante de uma jornada religiosa que iria até o meio dia, provavelmente de supostas lamentações vindas de um teólogo cadeirante que já entregara sua sorte a Deus. Ledo e doce engano. O Professor não possuía nada disso e ao contrário, havia dentro dele uma incrível incapacidade para resignar-se diante dos males desse mundo. Aliás, resignação e Deus foram termos absolutamente ausentes durante suas aulas. Sua preocupação maior estava no Homem, na vida, na sociedade. E ele não aceitava respostas fáceis, sempre exigindo o máximo de reflexão e esforço de todos nós, talvez porque para ele nada vinha sem esforço.
Éliton foi dos melhores professores que já tive, demonstrando impressionante lucidez pelos seus ensinamentos. Não possuía dogmas, mas sim questões. Não possuía certezas e somente alimentava todas as dúvidas. Só não duvidava de Deus, obviamente, me oferecendo uma explicação humana para Sua existência ao contrário de tantas explicações fantasiosas e bestiais que mais subestimam do que desenvolvem a inteligência e o pensamento.
Éliton Espírito Santo não faz mais parte do corpo docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ele se foi. Não foi hoje nem ontem. Não tenho a mínima idéia e tão pouco importa. Foi-se porque talvez fosse menos católico do que dele se esperava. Apenas ficou a triste notícia dada por minha querida professora Vera Vieira de que meu querido professor não está mais entre nós. Talvez esteja com seu Deus, mas com certeza sempre em minha lembrança.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
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Um comentário:
Bom dia. Entrei neste blog por acidente. Meu nome é Pedro, e por acaso, sou filho do prof. Eliton Espírito Santo.
Sei que a mensagem é antiga, mas achei necessário esclarecer algumas coisas. Não sei se foi exatamente o que você queria dizer, mas a postagem acima dá a entender que o professor Eliton havia morrido. Na verdade, ele continua vivo até hoje. De fato, ele se afastou do departamento (parou de lecionar em 2004) - mas não por motivos políticos. Apenas foi aposentado por 'invalidez'. Enfim, se quiser saber mais alguma coisa, é só escrever: notilili@ig.com.br.
Abraços,
Pedro.
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