quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A Ti, Mestre

Você que inala o pó dos livros.

Você que engole desaforos, mas brada o conhecimento.

Você que esquece de si próprio para lembrar de seus alunos.

Você que não é premiado com as honras que merece mas que sempre nos premia com sua honrosa presença.

Você que à nossa frente permanece de pé para que cresçamos.

Você que constrói o presente e vislumbra o futuro.

Você que carrega nas costas tudo que há por trás desses muros.

Você que namora a arte para fugir da solidão.

Você que se casou com a sabedoria, pois se encabula com os próprios sentimentos.

Você que até aqui nos conduziu e abriu caminhos.

A ti, mestre, viemos dizer que proclamamos feriado.

A ti, mestre, viemos aplaudir.

Parabéns pelo seu dia.

15 de Outubro Dia do Professor.

A ti, Mestre. Com carinho.

Adorável Professor

Ontem recebi uma triste notícia de minha orientadora do mestrado. Durante a aula, ela nos contou que o professor Éliton Espírito Santo, que lecionava Introdução ao Pensamento Teológico, não faz mais parte do corpo docente da PUC de São Paulo. Fato que poderia ser justificado pelo seu problema de saúde, pois sofre de esclerose múltipla, que o leva a se locomover através de uma cadeira de rodas. Pois era assim que o professor Éliton se dirigia à sala de aula todos os sábados de manhã para a obrigatória disciplina direcionada aos graduandos puquianos. Uma rotina semanal aparentemente pouco agradável para jovens de 20 anos que ainda carregavam espinhas no rosto, resquícios de uma adolescência que ficara pra trás.
À primeira vista, Éliton poderia provocar a piedade ou simplesmente um fastio, diante de uma jornada religiosa que iria até o meio dia, provavelmente de supostas lamentações vindas de um teólogo cadeirante que já entregara sua sorte a Deus. Ledo e doce engano. O Professor não possuía nada disso e ao contrário, havia dentro dele uma incrível incapacidade para resignar-se diante dos males desse mundo. Aliás, resignação e Deus foram termos absolutamente ausentes durante suas aulas. Sua preocupação maior estava no Homem, na vida, na sociedade. E ele não aceitava respostas fáceis, sempre exigindo o máximo de reflexão e esforço de todos nós, talvez porque para ele nada vinha sem esforço.
Éliton foi dos melhores professores que já tive, demonstrando impressionante lucidez pelos seus ensinamentos. Não possuía dogmas, mas sim questões. Não possuía certezas e somente alimentava todas as dúvidas. Só não duvidava de Deus, obviamente, me oferecendo uma explicação humana para Sua existência ao contrário de tantas explicações fantasiosas e bestiais que mais subestimam do que desenvolvem a inteligência e o pensamento.
Éliton Espírito Santo não faz mais parte do corpo docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ele se foi. Não foi hoje nem ontem. Não tenho a mínima idéia e tão pouco importa. Foi-se porque talvez fosse menos católico do que dele se esperava. Apenas ficou a triste notícia dada por minha querida professora Vera Vieira de que meu querido professor não está mais entre nós. Talvez esteja com seu Deus, mas com certeza sempre em minha lembrança.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A vida continua

A vida continua em cada morte na esquina
A vida continua na criança abandonada
E em cada família despejada
A vida continua em cada analfabeto
A vida continua na mulher que se faz objeto
A vida continua sempre na pergunta sem resposta
No silêncio ao invés do grito
Já que todos falamos e ouvimos que a vida continua
Pois ela continua na mentira velada
A vida continua no engano
E na verdade omitida
A vida continua no coração que se parte
Na pedra que se atira
No frio que ao mendigo abate
A vida continua na fome
Na discórdia, na maldade que não tem nome
A vida continua no desespero
Na resignação
A vida continua na mais absoluta solidão...

Livros

Livros são passeios que passeiam na cabeça
Nos invocam, nos questionam,
Nos agridem e abandonam

Nos libertam, nos afagam
Nos completam,
Nos acalmam

São delírios de uma vida
Inteira ou por viver
São palavras que nos dão
O prazer e o sofrer

São tijolos pesados
Que carregam o ser
Vivido em outro tempo
Sem mais aparecer

Refazem o presente
Mastigam o passado
Revelam a verdade
Não importando o lado

São viagens deslumbrantes
Sensações inebriantes
Fascinam a mente,o coração
Com uma doce ilusão

Magníficos objetos
De uma experiência humana
Em que sublimes trajetos
Se fazem completos

Completa é tua marca
Pra sempre deixada no mundo
Livros permitem ao Homem
Planar sobre poços sem fundo

O asco amoroso

Diz o dito popular que só o amor constrói
Constrói o que eu me pergunto?
A resposta não é simples e não vou simplificar
Simples é o fato de que ele é de amargar
Ele pode ser cristão, o que duvido com certeza
Seria assim fraterno, acolhedor, benevolente
Mas esse não é o amor que me perdoem a clareza
Ele é sim hobbesiano, destruidor em sua essência
Onde o homem é lobo do homem , em nome da sobrevivência
Sobrevivência da vaidade, do ego , ou do que mais poder
Queres um amor seguro e grandioso?
Sinto muito não vais ter
És o asco amoroso ou amor asqueroso?
Pergunta difícil de responder
Talvez nem seja preciso
O óbvio é ululante e não precisa explicação
Quem já sofreu na pele sabe
A dor de uma desilusão
Me despeço com a certeza
De que sobre isso só me restam dúvidas
E o amor está à espreita de alguma presa
Lá fora...